É um desafio e tanto manter uma fórmula interessante depois de quase uma década de lançamentos anuais. No que diz respeito à Activision, eles esperavam impedir a estagnação da franquia Call of Duty distribuindo o desenvolvimento entre três estúdios, cada um com uma visão própria do futuro. Este ano, a Treyarch finalizou sua minissérie com Black Ops 3, um mero ano depois da relativa novata Sledgehammer Games oferecer sua releitura com Call of Duty: Advanced Warfare. Ambos os jogos têm seu grupo de fãs fervorosos ao mesmo tempo que conseguem atrair os fãs gerais de CoD que compram os jogos todo ano. E tanto a Treyarch quanto a Sledgehammer conseguiram dar um toque especial em seus jogos, dando aos jogadores dois dos melhores CoDs dos últimos tempos.
Isso significa que vai haver muita pressão no desenvolvedor original de Call of Duty, a Infinity Ward. E isso se reforça ainda mais com o fato de que eles foram os responsáveis por possivelmente um dos piores jogos da franquia.
Para se ter uma ideia de como o ano que vem pode acabar sendo bem interessante, é só olhar para Call of Duty: Ghosts de 2013. Qualquer coisa pode ser pintada mais feia do que é olhando em retrospecto, mas mesmo o impacto inicial de Ghosts não foi tudo isso na época. As grandes novidades eram focadas em Riley, o cachorro, soldados mulheres no multiplayer e um pouco de espaço sideral. Muito embora Ghosts tenha incluído todos esses conceitos, eles se provaram praticamente irrelevantes e, no fim das contas, o jogo ficou parecido demais com as criações anteriores da IW. Por mais que houvesse novos modos de jogo e algumas mudanças no multiplayer, não havia nada que distinguisse Ghosts dos outros Modern Warfare's.
Os resultados falam por si mesmos. Não só as notas (inclusive a nossa) foram bem medíocres, como Ghosts teve uma performance de vendas abaixo do esperado. Embora haja aqueles que atribuem isso à incerteza sobre a transição para os consoles da nova geração, muito desse resultado se deve ao nível geral de qualidade de uma campanha inferior à média e um multiplayer que não viu muita inovação desde a era Modern Warfare.
As falhas de Ghosts se tornam ainda mais aparentes em contraste com os destemidos esforços de Advanced Warfare e Black Ops 3. Advanced Warfare atraiu olhares recrutando Kevin Spacey para o modo história e ao guiar um quarteto de celebridades por uma história de zumbis coerente e linear. Mais do que isso, o multiplayer introduziu uma guerra futurista e baseada nas Exo-roupas, trazendo mechas e robôs para um mundo CoD mais avançado. Black Ops 3 foi mais longe ainda ao incluir implantes neurais futuristas na campanha, dando poderes sci-fi aos jogadores e contando uma história sobre o que significa ser um soldado no futuro. O multiplayer atualizou a filosofia de tropas em campo, misturada com um toque de mecânicas de classes para os personagens que dão um ar de novidade à fórmula sem abandonar suas raízes completamente.
Na verdade, a evolução do multiplayer é onde Advanced Warfare e Black Ops 3 brilharam de verdade. E isso não vem só da inclusão dos mechas ou da tecnologia futurista. O multiplayer melhorou em grande parte devido às mudanças na movimentação. Advanced Warfare se foca na verticalidade, na mobilidade e nas novas habilidades EXO que se moldam a estilos de jogo diferentes. Black Ops 3 retira completamente quase todas as barreiras de movimentação, tornando os jogadores capazes de correr infinitamente, subir pelas paredes e lutar em 360º o tempo todo, até mesmo embaixo d'água.
Em contraste, a Infinity Ward apresentou bem menos inovações. Apesar de algumas pequenas mudanças, Ghosts ainda parece ter muito do estilo dos velhos Modern Warfare's, até nos itens desbloqueáveis, vantagens, o sistema de níveis e até no visual. Não que o jogo seja ruim, mas a minha opinião original de Ghosts continua a mesma: ele foi o jeito da Infinity Ward não se arriscar. Nada de errado com isso, mas com a Sledgehammer e a Treyarch subindo a marcha desse jeito, não se arriscar deixa de ser uma opção.
Também vale mencionar que a relação da Infinity Ward com a comunidade PC gamer tem sido tensa desde a época do Modern Warfare 2 e sua falta de servidores dedicados. A IW passaria a oferecer esse benefício em suas produções subsequentes, mas isso foi graças ao time da Sledgehammer, que abriu essa possibilidade em Modern Warfare 3. A Treyarch, por outro lado, tem sido mais amigável com os usuários de PC, chegando ao ponto de divulgar os requisitos de sistema para Black Ops 3 já em abril. A Treyarch bateu o pé para trazer suporte a computadores de alta capacidade e resolução 4K, e apesar do lançamento com problemas a resolver, o objetivo de Black Ops 3 tem sido o de dar aos jogadores de PC uma experiência otimizada. Apesar da Infinity Ward ter melhorado sua habilidade de se relacionar com a comunidade do PC, existe uma desconfiança arraigada que vem desde os primeiros Modern Warfare's e que não vai ser perdida com facilidade.
O interessante do método de três estúdios da Activision com Call of Duty é que se criou um espírito saudável de competição entre os três. A Sledgehammer quis homenagear o sistema "Pick 10" da Treyarch e usá-lo para melhorar o próprio jogo, sentindo que eram capazes de aprimorar a fórmula. A Treyarch, por sua vez, focou em uma movimentação mais rápida e um multiplayer mais sólido. Ao se consultar com os outros estúdios no passado, eles passaram a trocar cutucões bem-humorados, ambos dedicados a tornar seu jogo o melhor dos Call of Duty. Mas essa competição nasceu do mesmo objetivo: pegar o que a Infinity Ward criou e torná-lo melhor.
Ano que vem vai ser a vez da IW de mostrar seu Call of Duty, e será necessário algo muito mais impressionante que Ghosts para se destacar do que a Sledgehammer e a Treyarch criaram. Talvez eles possam melhorar o modo Hunted, que pareceu tão novo e diferente, e criar alguns modos novos que façam os jogadores se engajarem de novos jeitos. Talvez eles possam ampliar as sequências de espaço, que estavam muito cruas em Ghosts, mas podem ter melhorado nos últimos três anos. Independente do que aconteça, vai ser divertido mudar o calendário para 2016 e ver se a IW ainda tem aquela velha magia que fez 2007 ser tão memorável.
Fonte: ShackNews
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