quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A Natureza Mandou Cuidar dos Velhinhos - Quarta Científica #37


Muitos de nós dão grande valor aos nossos avós, mas aparentemente eles são tão importantes que os humanos evoluíram variantes genéticas só para protegê-los de certas doenças relacionadas à idade, como o Mal de Alzheimer. Ao se manter as velhas gerações com mais saúde, não só se reduz o esforço necessário para cuidar deles como se permite que eles continuem contribuindo para o bem da sociedade.

"Quando idosos sucumbem â demência, a comunidade não só perde fontes importantes de sabedoria, cultura e conhecimento acumulado, como os anciões que têm perdas cognitivas leves e posições de influência podem acabar prejudicando seus grupos com decisões falhas" explicou o co-líder da pesquisa, Pascal Gagneux da Universidade de San Diego, Califórnia.

A reprodução é a razão de ser da vida na Terra. Para a grande maioria das espécies, se os seus órgãos reprodutores saem de cena, não há muita razão para ficar por aqui. Os humanos são uma exceção à regra: Nós podemos viver muito tempo além da idade reprodutiva, E isso é bom para a nossa espécie, já que eles podem cuidar de seus filhos e netos, ajudar a juntar comida e transmitir seu valioso conhecimento aos outros.

Mas, claro, tudo isso depende dos idosos serem física e mentalmente capazes de realizar essas tarefas. Males associados à idade como demência e doenças cardíacas ameaçam essa contribuição às famílias e custam caro, também. Será então que existe um mecanismo genético que ajuda a manter o corpo e a mente saudáveis o bastante para que eles possam gerar esse benefício aos grupos? De acordo com essa última pesquisa, parece que sim.

Como foi descrito na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, a equipe inicialmente tinha interesse na contribuição do gene CD33 para o mal de Alzheimer, que só ocorre após a idade reprodutiva. O receptor produzido por esse gene ajuda a regular o sistema imunológico, impedindo respostas potencialmente danosas após infecções ou ferimentos. O interessante é que pesquisas anteriores tinham sugerido que uma variação em particular do CD33 poderia ajudar na proteção contra o Alzheimer ao impedir o acúmulo de aglomerados de proteínas tóxicas dentro do cérebro, que são associadas à progressão da doença.


Ao examinar as origens dessa variação em particular, os pesquisadores estudaram o CD33 nos nossos parentes mais próximos - os chimpanzés. Apesar de ambas as espécies terem níveis iguais do CD33 "normal", os níveis da variante protetora se mostraram quatro vezes maiores nos humanos que nos chimpanzés. E isso é surpreendente, já que não é de se esperar uma pressão seletiva grande em algo que beneficia animais em idade avançada, já que as fêmeas idosas não são mais capazes de se reproduzir.

Outro fato interessante é que as descobertas não foram só sobre o CD33. Eles também encontraram variações exclusivamente humanas de vários outros genes relacionados à deterioração cognitiva relacionada ao envelhecimento. Por exemplo, descobriu-se que genes associados a doenças neurodegenerativas, como demência ou falta de circulação sanguínea no cérebro, possuem variantes protetoras em humanos de várias etnias, mas não nos nossos parentes evolucionários mais próximos. Isso significa que essas variantes devem ser mais antigas que os genes ancestrais, e sua ampla presença em etnias diferentes indica que eles provavelmente se formaram antes da aparição do Homo sapiens.

Para esses genes terem sido selecionados de maneira tão forte em indivíduos incapazes de reprodução, eles devem ter tido um papel importante na nossa evolução. E esse papel, sugerem os pesquisadores, é o de nos proteger das doenças relacionadas à idade que prejudicam a habilidade dos indivíduos mais velhos de cuidar de seus parentes mais novos. Talvez no futuro, os cientistas consigam usar essa nova informação para ajudar a criar tratamentos para as doenças que afetam os idosos.

Fonte: IFLScience
Imagens: IFLScience, MedicineNet

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