quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Como disse Albert Einstein... não, pera - Quinta Jogando #2



O "Tempo de Jogo" é Uma Ilusão




Só para explicar, o desafio é zerar Ocarina of Time em 25 minutos.

O mais recente escândalo do mundo dos videogames é o suposto tempo de campanha de The Order 1866. O rumor, negado ferrenhamente pelos criadores, é que o exclusivo de PS4 requer meras cinco horas de dedicação.

Claro que essa é uma alegação bem difícil de substanciar, já que "horas para zerar" é uma medida bem nebulosa. Afinal, nem todo mundo joga no mesmo ritmo. Games que devoraram centenas de horas de nossas vidas, como Skyrim [Duzentas e alguma coisa, de minha parte], podem ser terminados em uma speed run de 45 minutos. É só assistir os vídeos incríveis do canal AGDQ (Awesome Games Done Quick) e já dá para entender.

Mas aí virão as pessoas que dirão que speed runs não são gameplays normais. São feitos justamente com a velocidade em mente, ignorando conteúdo extra, a boa saúde do personagem e até a estabilidade do jogo, já que muitas runs fazem uso de glitches e atalhos. A maioria das pessoas, no entanto, considera a duração do jogo como uma medida de "potencial".

Já deu para ver o problema aí? O "potencial" de tempo de um jogo é infinito, ou pelo menos pseudo-infinito. Um jogador pode gastar o resto da vida no mesmo jogo tentando dominá-lo o máximo possível. Se quiser provas, é só voltar para os speedrunners. Alguns deles jogam o mesmo jogo de Nintendinho desde que eles foram lançados.

O tempo de jogo aumenta se o jogador for ruim. Se você morrer um milhão de vezes em Dark Souls [Não custa muito], o seu tempo total vai bater no teto. Por outro lado, o tempo também aumenta se o jogo for ruim. Sonic Boom não é um jogo curto, mas também não é um jogo divertido. Dá para perder horas a fio tentando passar pelos inúmeros bugs, glitches, puzzles repetitivos e cutscenes horríveis.

E ainda por cima existem gêneros inteiros que podem ser zerados sem ter que parar para ir ao banheiro. Jogos de luta, por exemplo. A maioria das pessoas consegue terminar o modo arcade de um jogo de luta em 10-20 minutos. Caso haja um modo história, dá para fechar em um dia, no máximo dois, e geralmente ele serve mais como um jeito de desbloquear conteúdo no modo versus. Mesmo assim, as horas gastas em um jogo de luta são enormes, batendo nos três dígitos se a pessoa for dedicada o bastante. A minha cópia de Super Smash Bros. Melee está com a contagem de tempo estourada.

Outros gêneros também têm contagens de tempo meio vagas - por exemplo, jogos de esporte. O tempo de jogo é o tempo de se jogar uma temporada, de se terminar uma campanha "crie um personagem" ou só de se terminar um amistoso? E jogos de música? Conta-se até o final da campanha single player ou até se desbloquear tudo? E se não houver uma campanha solo, como nos primeiros Dance Dance Revolution's? Dá para terminar o modo Evacuação de Evolve em 40 minutos. Isso quer dizer que o tempo de jogo é de 40 minutos?

E então vêm os jogos que são curtos, mas mesmo assim fantásticos. Veja jogos de nicho, como Braid. Não foi muito longo, mas foi genial. E Five Nights at Freddy's? Também curto, também adorado pelos fãs.

À essa altura, você deve estar perguntando "de que adianta isso?". Bom, olhe para o estado de The Order nesse momento. Seus criadores estão erguendo todas as paredes possíveis para manter o interesse do público de pé. Um grupo de gamers muito barulhento já decidiu que The Order não vale o tempo deles, e as notícias se espalham muito rápido hoje em dia. Um rumor como esse poderia muito bem fazer o jogo nascer morto.

Para ser sincero, isso não é bom para a perpetuação da espécie dos videogames ou da respectiva indústria. Casos assim significam que outra forma de processo criativo foi restringida porque não cumpriu a lista de requisitos de um jogo "bom". Um jogo pode ser curto e te dar as melhores duas horas de gameplay da sua vida, que você vai querer repetir várias vezes. Inclusive, jogos assim já existem, como os gêneros de luta e esporte que eu mencionei. E quem sabe que tipos novos de gênero vão aparecer no futuro e que funcionarão melhor com tempos de jogo baixos.

Jogos longos foram bons no passado, e geralmente o tamanho mostra que os criadores se esforçaram, logo associamos "longo" com "bom". É só olhar para os anúncios de Dragon Age: Inquisition, prometendo "centenas de horas de jogo". Seres humanos gostam de números, porque eles deixam o mundo mais simples. É bem mais fácil olhar um número subindo e pensar "muito bom" do que examinar todas as facetas do design de um jogo e ponderar se elas funcionam bem umas com as outras ou não. Mas isso também não significa que jogos curtos têm que ser ruins. Não quer nem dizer que tempo de jogo é um critério! Se quisermos ser justos com os jogos novos, temos que pelo menos esperar o público tê-los em mãos para julgar se o pouco tempo de jogo é bom ou ruim, ou se sequer tem relevância.

Fonte: CheatCC

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