Cientistas Conseguem Implantar Falsas Memórias em Ratos
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Até os melhores cérebros têm memórias imperfeitas. Esquecemos as coisas com frequência, e algumas pessoas até se lembram de coisas que não aconteceram, um fenômeno chamado de falsa memória. Apesar de sabermos que é possível implantar essas lembranças artificiais na mente só através da sugestão, cientistas começam a demonstrar que também é possível através de uma sofisticada tecnologia, muito embora funcione só em animais. Ano passado, por exemplo, pesquisadores conseguiram fazer ratos associar, erroneamente, um ambiente com uma experiência desagradável de outro lugar, através de manipulação genética e um leve estímulo das células cerebrais.
Indo mais além, pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França conseguiram, pela primeira vez, implantar memórias artificiais nas mentes de ratos adormecidos. E mais, essas memórias falsas persistiram e afetaram, de verdade, o comportamento do animal depois que ele acordou. Além de ser uma conquista impressionante, o estudo está nos ajudando a entender melhor o papel do sono na consolidação de memórias. Um dia, isso pode gerar métodos para diminuir nossa suscetibilidade a falsas memórias, que podem causar problemas sérios em processos criminais.
Para enganar o cérebro dos animais, os pesquisadores inseriram eletrodos desenhados para atingir duas áreas diferentes: uma parte vital do nosso sistema de recompensa, o feixe medial anterior (MFB) e parte do nosso centro de aprendizado e memória, o hipocampo. Mais especificamente, a parte dele conhecida por conter neurônios chamados células de lugar. Esses nervos, cuja descoberta deu o Prêmio Nobel a três cientistas, são células que se ativam quando um animal está em um lugar específico de um ambiente, chamado de "campo de lugar". Combinadas com outro tipo de neurônio, essas células formam nosso "GPS Interno", que permite nossa orientação em três dimensões.
Para identificar essas células de lugar, os pesquisadores permitiram que os animais explorassem seu ambiente enquanto gravavam a atividade neuronal. Após descobrir quais células se ativavam quando o rato entrava em um determinado campo de lugar, a equipe começou a estimular o MFB no período que essas células estavam ativas em períodos despertos. Isso gerou uma associação falsa positiva entre aquela área em particular e uma recompensa ou uma experiência prazerosa. Por consequência, os ratos ficaram muito mais tempo explorando essas áreas comparados com o grupo de controle, que recebeu estímulos aleatórios.
Já se sabe que os neurônios do hipocampo repassam as experiências do dia durante o sono, então os pesquisadores continuaram a monitorar a atividade cerebral enquanto os animais tiravam uma pestana. Com a ajuda de uma interface cérebro-máquina, um estímulo era aplicado automaticamente no MFB sempre que uma determinada célula de lugar se ativava. Novamente, quando os animais estavam acordados, ficavam até cinco vezes mais explorando as áreas associadas à atividade das células de lugar, comparados com os que receberam estímulos aleatórios, o que sugere que eles tinham uma memória consciente de que havia algum tipo de recompensa naquele lugar em particular.
Claro, já que essa técnica envolve implantes cerebrais, é muito improvável que seja repetida em humanos. Mesmo assim, os cientistas tem esperança de que as descobertas representam um passo importante para ajudar pessoas com problemas de memória ou doenças neurológicas que afetam a capacidade de lembrar.
Fonte: IFLScience
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