quinta-feira, 26 de março de 2015

O Silêncio Vale Ouro... Ou Não - Quinta Jogando #7




Enquanto alguns heróis têm sempre um comentário maroto na ponta da língua, outros preferem deixar o diálogo para os amigos. O protagonista silencioso esteve presente no mundo dos jogos desde o Nintendinho e o primeiro Super Mario Bros, quando o diálogo era texto na tela. Gravar vozes antigamente era difícil, e as histórias eram simples - pule em alguns inimigos e chegue no castelo a tempo de descobrir que a princesa nem estava lá para começar. Quem sabe da próxima.

Muita coisa mudou desde a primeira vez que Bowser nos passou a perna. Hoje em dia, as histórias estão cada vez mais complexas e, apesar da maioria dos protagonistas já conseguirem se expressar, o herói sem falas permanece, nobre e silencioso em sua missão. Alguns podem achar que o conceito está ficando velho - se as limitações tecnológicas já foram superadas, por que ainda vemos jogos onde o diálogo do protagonista se resume a gemer de dor? Será hora de desligar o mudo e aumentar o volume dos resmungos, deixando os personagens ter um pouco de personalidade e vocabulário?

Prós do Herói Mudo


Pode-se argumentar que protagonistas mudos são o resultado de preguiça ou falta de criatividade por parte dos roteiristas mas é claro que não é sempre assim. O herói "forte e silencioso" é uma preferência artística popular entre alguns desenvolvedores, e baixos orçamentos podem acabar tirando de vez qualquer dublagem, ainda mais no mundo dos indie games.

Mas há outras justificativas para heróis mudos além de pura e simples limitação. Uma vantagem deles é ser imune às reclamações contra dubladores que estragam opções de diálogo com entonações desagradáveis ou má construção de frase. E isso é válido, já que, especialmente nos RPGs da Bioware, uma opção de fala moderada ("Eu discordo") pode virar um insulto ("Não é nada disso, sua anta com sífilis!") por causa do espaço limitado.na roda de diálogos.

Alguns jogadores e desenvolvedores comparam o protagonista silencioso a uma folha em branco, uma tábula rasa na qual os jogadores podem projetar suas histórias e experiências. Essa é uma resposta comum a críticas feitas ao herói de Half-Life 2, Gordon Freeman. Apesar de estar presente em inúmeras conversas entre os personagens, Freeman não abre a boca no jogo inteiro. Defensores do estilo argumentam que deixá-lo sem diálogos permite que os jogadores respondam de do jeito que acharem melhor, seja qual for, e os ajuda a se colocar no lugar de Freeman.

Contras do Herói Mudo


O argumento da tábula rasa tem seu mérito, mas inevitavelmente faz parecer que alguém fugiu da raia. Half-Life 2 é um jogo fantástico e um dos pilares do gênero FPS. As cutscenes interativas que não retiram o controle do jogador são uma ótima inovação, mas um protagonista que não reage a alienígenas e cachorros robóticos gigantes parece mais um zumbi do que uma folha em branco. Freeman tem uma história, um nome e um objetivo a cumprir, mas ele não é lá um personagem muito bom. Os jogadores não aprendem muito sobre ele, fora onde ele trabalha e como ele bate bem com um pé-de-cabra. Se os criadores tivessem lhe concedido o dom da fala, o personagem de Freeman não seria mais profundo e desenvolvido?

Escolhas de palavras e tons de voz destoantes irritam, mas isso foi algo que passou batido no desenvolvimento; não é uma razão para defender o amordaçamento dos protagonistas. Quando o seu Shepard Paradigma alfineta alguém porque o dublador não falou do jeito que você imaginou, é um saco, mas é melhor que silêncio total, não é?

Silêncio Digno



Dragon Age: Origins da BioWare e a série Halo da Bungie são dois jogos que não dão muito diálogo para seus protagonistas - Master Chief e o/a Herói/Heroína de Ferelden - mas nenhum dos dois parece ser uma folha branca sem conteúdo. Isso sugere que existe um meio termo no debate protagonista mudo vs. protagonista falante.

Claro que nem todos os heróis silenciosos são ruins. Chell, da série Portal, é uma protagonista silenciosa bem-feita. Personagens como GLaDOS, Wheatley e mesmo as torretas mais do que compensam seu silêncio, gerando um contraste e uma profundidade ao seu caráter. Dar a Chell uma língua tão afiada quanto a dos outros potencialmente estragaria o ritmo do jogo. Chell nunca responde aos intermináveis insultos de GLaDOS ou se deixa afetar por todo aquele veneno. Ela demonstra sua determinação de maneira silenciosa, de um jeito que parece mais uma escolha do que uma limitação. Claro, isso é colocado em dúvida no segundo jogo, quando Wheatley supõe que o silêncio da heroína se deve a dano cerebral (o que pode nem ser verdade - afinal todos sabemos o quanto dá para confiar no Wheatley). Talvez pelo fato de Chell nunca estar completamente sozinha, graças aos constantes cutucões de seus supervisores robóticos, o silêncio dela parece ser intencional, não omissivo.

Linguarudos versus Línguas-Presas


No geral, protagonistas mudos de sucesso são mais a exceção do que a regra. Independente das razões para a falta de voz, quando os desenvolvedores deixam por conta dos jogadores a tarefa de inserir uma personalidade em protagonistas silenciosos e em branco, parece trapaça. E também não ajuda os jogadores a se identificar com os personagens.

O protagonista não precisa ser um tagarela que tira onda, dá opinião e se emociona com cada palavra, mas um personagem que não abre a boca acaba sendo tão sem-graça quanto um que fale feito um robô. E, no frigir dos ovos, é muito mais divertido participar da jornada de um personagem interessante que tenha uma voz, um coração e um ponto de vista, ao invés de um avatar passivo saltitando pelo cenário vazio.

Fonte: GameRant

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