O mundo à nossa volta é uma cacofonia de sinais que os nossos cinco sentidos principais não conseguem sentir. Nós não podemos ver infra-vermelho a olho nu como algumas cobras, nem temos um sentido natural para campos magnéticos. Em compensação, temos cérebros bem espertinhos, que há muito tempo nos permitem criar meios de aumentar nossos sentidos básicos.
Pode-se argumentar que esse processo já acontece desde a criação das línguas, mas a coisa começou a ficar séria depois que os chineses da Dinastia Song passaram a usar a bússola no século XI. Graças a essa descoberta, de repente nós pudemos compensar nossa falta de sentido magnético com a tecnologia. Pela primeira vez, nossa espécie compreendeu os campos magnéticos da Terra e conseguiu usá-los para ter uma vida melhor.
A criação de aparelhos extra-sensoriais acelerou depois da revolução científica e decolou de vez com a descoberta das ondas eletromagnéticas e a criação do rádio. Através dele, não só descobrimos como transmitir frequências eletromagnéticas como criamos a tecnologia para manipulá-las como som.
Mas o primeiro grande passo na criação de um sexto sentido externo para os humanos aconteceu de fato em 2007, quando Steve Jobs subiu no palco da Macworld e abriu as portas para a era moderna dos smartphones.
Junte as capacidades principais de um smartphone com as notificações push, o volume de dados certo e um software capaz de traduzir informação bruta em conhecimento útil em tempo real, leve ao forno até dourar e temos um belo sexto sentido pronto para ser usado.
É quase como uma consciência mais detalhada do ambiente à nossa volta, intermediada pela Internet e um aparelho inteligente. Em outras palavras, seu telefone, a internet e o software certo trabalham juntos para "sentir" os dados que permeiam o ambiente e transmiti-los para você como uma notificação push com informações. O resultado é uma vibração na sua pele ou um alerta sonoro. Para dar um rosto ao conceito, é só pensar no Foursquare, no Facebook e no Google.
Check-in, Nearby Friends e Google Now
O check-in do Foursquare. Apesar da perene dificuldade de manter uma base fiel de consumidores, o Foursquare usou seus check-ins para criar a base de dados online de locais físicos mais rica e precisa do mundo. E ao se cadastrar na versão mais recente do aplicativo, ele ainda te encoraja a dizer que tipos de comida e atividade você mais gosta.
Deste modo, ao passar perto de um restaurante que serve sua comida preferida, um bar que se especializa no seu coquetel favorito ou qualquer outro local no mundo real que oferece algo que possa te interessar, o Foursquare te manda uma notificação.
Para conseguir isso, o Foursquare combina sua base de dados, o sinal de GPS do seu telefone e seus algoritmos únicos para te contar coisas que você talvez não saiba sobre o mundo em volta. E ele faz tudo isso em tempo real sem que você precise pedir.
O resultado é um sentido digitalmente amplificado do mundo físico.
O Nearby Friends do Facebook, capaz de sentir nosso ambiente social. No momento, a base de dados e os algoritmos do Facebook não impressionam e limitam a utilidade da ferramenta, mas existe potencial a explorar. Se o Facebook entendesse melhor os nossos relacionamentos, ele seria capaz de nos informar quando um amigo estivesse próximo e o que eles estariam fazendo.
Seria bem interessante (e invasivo) se o Facebook descobrisse como nos notificar de pessoas próximas que não conhecemos mas provavelmente gostaríamos de encontrar.
Com isso, temos um sentido digitalmente amplificado do nosso ambiente social.
O Google Now que tudo vê. Se você usa os serviços do Google na maior parte da sua vida digital, o Google Now minera o seu calendário, e-mail, localização, histórico de buscas e até a hora do dia para dar um sem-número de notificações úteis sobre o mundo.
Você tem uma reunião logo e o trânsito piora antes de você sair? Toma uma notificação para sair antes. Uma encomenda que você está esperando saiu para entrega? Toma uma notificação dizendo a hora que ela deve chegar.
Dependendo de como você interpreta as intenções do Google, esse tipo de análise pró-ativa da sua vida pode ser meio perturbadora. Se a filha da mãe não fosse tão útil, até dava para se irritar.
As Notificações Push Ainda São Muito Primitivas
Como sabe qualquer pessoa que convive com alguém que não consegue largar o telefone, notificações de smartphone são um porre. Talvez até uma praga. E isso se deve, em parte, ao fato da maioria das notificações serem feitas com o propósito específico de te arrancar do que você está fazendo para o benefício de algum interesse corporativo: "Compre isto! Volte para o nosso aplicativo! Venha ver nossa nova espada virtual".
De fato, longe de ser útil, muitas (leia-se, a maioria) das notificações acabam sendo danosas, nos viciando na nossa própria dopamina e nos afastando dos momentos da vida que estão passando por nós.
Há um mundo lá fora onde as notificações nos ajudam a viver melhor, mas ele ainda não chegou de verdade. Mas isso começa a mudar com o Apple Watch e o seu revolucionário "motor táptico". Caso você não saiba o que é isso, é a função do Apple Watch que te dá um toque no pulso quando uma notificação chega.
Apesar do nome técnico, o motor táptico é o diferencial do Apple Watch. Sem ele, o Watch é só uma bijuteria digital estilosa, mas com ele, é muito, muito mais.
A Revolução do Motor Táptico
Já que se usa o Apple Watch no corpo ao invés de carregá-lo no bolso, a conexão que o motor cria entre a sua mente e a informação das notificações é muito mais íntima e direta: ao invés de uma vibração no seu bolso ou um alerta sonoro para te distrair, seu aviso é um toque de leve no pulso.
Paremos para pensar: Um dispositivo no seu pulso está usando uma gama enorme de bancos de dados online e o seu sentido de tato para notificá-lo em tempo real de coisas que você talvez não fosse perceber sem ele.
O Apple Watch é capaz de analisar os dados do relógio e do acelerômetro para te dizer se você já está sentado há muito tempo. Com uma mãozinha de outros wearables como o Spire ou o Lumo Lift, ele consegue dizer se o seu padrão respiratório indicam sinais de estresse ou se a sua postura está ruim.
Algumas dessas informações te ajudam a viver melhor, claro, mas outras podem ser casos de vida ou morte. Se você é diabético, por exemplo, você pode usar o Apple Watch com um monitor de glicose e ser notificado de alguma variação indesejada na sua glicemia ao longo do dia.
Imagine que você acabou de se mudar para Kansas City e está na hora do almoço. Enquanto você anda, o Apple Watch te avisa que há um restaurante próximo famoso pelos pratos de costela. Após uma excelente refeição, você recebe outro aviso, dizendo que seu bom amigo fulano está tomando café na rua de baixo. Você dá um comando para o relógio e o relógio dele avisa que você está por perto.
Enquanto vocês conversam, o aplicativo Dark Sky avisa que logo deve cair uma tempestade e, enquanto você pensa se deve entrar ou não, uma urgente combinação de toques simboliza um recado do Serviço Nacional de Meteorologia. Ao girar seu pulso e olhar para baixo, o relógio informa que um aviso de tornado está valendo pelas próximas duas horas.
Deu para pegar o espírito.
O lado ruim, mencionado tanto por Farhad Manjoo do New York Times e Steven Levy do BackChannel, é que o Apple Watch abre as comportas para uma enxurrada de toques que demandam mais ainda a sua atenção já sobrecarregada.
Mas com alguns ajustes bem pensados, é possível programar o seu jovem sexto sentido para transmitir informações úteis ao invés de distrações irrelevantes: seu táxi está chegando; seu batimento cardíaco está muito rápido; seus padrões respiratórios indicam ansiedade; você deveria fazer uma pausa e respirar devagar e profundamente.
Do Apple Watch ao Homo Sapiens 2.0
Apesar da estrada para o futuro da humanidade ser incerta e cheia de buracos, podemos tirar uma conclusão: Se conseguirmos passar as próximas décadas sem explodir tudo, a nossa espécie estará pronta para evoluir.
Alguns futurólogos acreditam que essa evolução virá na forma de uma inteligência artificial inteligente. Já eu acredito que a nossa tecnologia vai continuar a se unir à nossa biologia, e a próxima geração de seres humanos será uma união profundamente integrada de homem e máquina.
Ao longo desse caminho, muitas coisas incríveis vão ter que acontecer primeiro, mas já existem algumas virando realidade agora mesmo. Eventualmente, nossas mentes e corpos estarão banhados de hardware e software que nos conectarão mais ainda com o mundo digital.
Quando isso acontecer, o Apple Watch e os seus revolucionários toques no pulso serão coisa de museu, assim como os computadores gigantes de Alan Turing são hoje.
Mas, quando eles olharem para o passado e falarem sobre como chegamos onde chegamos, o Apple Watch e todos os seus aplicativos e tecnologias acessórias serão considerados um importante primeiro passo.
Como o próprio Watch demonstra, um sexto sentido digital e inato para os seres humanos é apenas uma questão de tempo.
Fonte: TechCrunch
Imagens: TechCrunch, National Hellenic Museum, Navegadores TI, The Independent, Trusted Reviews That'sReallyPossible,
Nenhum comentário:
Postar um comentário