quarta-feira, 13 de maio de 2015

Na Sua Cara, Sherlock! - Quarta Científica #14

Quem estiver pensando em cometer um crime, tenha em mente: as bactérias estão em todo lugar. Um estudo piloto demonstrou que os germes em itens pessoais como celulares e sapatos são um jeito eficiente de saber onde a pessoa esteve, coisa que pode ser muito útil em investigações forenses.

Micro-organismos tais como as bactérias são pequenos, variados e, geralmente, exclusivos a certos ambientes, indivíduos ou organismos maiores. Por conta disso, elas seriam excelentes para investigações criminais. Assim como DNA e impressões digitais, um suspeito pode, sem saber, deixar micróbios na cena do crime ou na vítima, o que pode gerar informações sobre a sua identidade ou origem. Algum dia, essas assinaturas microbiais podem ser tão importantes quanto DNA ou digitais, apesar de que ainda falta muita pesquisa para isso.

A Era das Bactérias


A Biologia chama o atual estado do mundo em que vivemos de “era dos mamíferos”, que veio depois da “era dos dinossauros”, que veio depois da “era das bactérias”. Mas há muito mais espécies de bactéria no mundo do que espécies de mamíferos. Se olharmos esses dados, junto com a distribuição e adaptabilidade delas, aparentemente ainda estamos na era das bactérias.

As bactérias são os seres mais abundantes e geneticamente diversos de que temos conhecimento. Essas pequenas criaturas habitam praticamente todos os ambientes, inclusive lugares com condições extremas, como as geleiras em grandes altitudes, regiões polares e fontes termais extremamente quentes. Fora isso, elas estão presentes em várias regiões dos corpos de animais e humanos, especialmente a pele, a boca e o trato intestinal. Essas partes do corpo são o lar de várias comunidades de bactérias e outros micro-organismos que podem mudar dependendo da saúde e da idade do hospedeiro.

Vários estudos foram feitos para descrever o microbioma humano, que é o nome dado à coleção de bactérias com as quais convivemos, e para verificar que a assinatura microbial pode mesmo ser usada em investigações e ser aceita, no final de um processo jurídico, como um meio de prova.
Ao chegar na cena de um crime, geralmente o suspeito tem que andar no chão. Essa foi a premissa inicial do estudo, que tentou determinar a possibilidade de rastrear o paradeiro de pessoas usando a comunidade microbial de seus sapatos.


A equipe analisou os sapatos de 89 participantes selecionados aleatoriamente entre os visitantes de três conferências científicas diferentes nos Estados Unidos. Foi descoberto que os sapatos podiam ser divididos em três grupos, de acordo com a localização geográfica das conferências. Isso ocorreu porque sapatos que entraram em contato com tipos diferentes de superfície continham assinaturas microbiais diferentes, junto com um “microbioma central” pertencente ao dono dos sapatos. 
Obviamente, isso é muito útil para equipes forenses, que poderiam usar a assinatura microbial para saber de quem são os sapatos e onde eles estiveram antes da amostra ser colhida.

A equipe também demonstrou que um dos objetos mais comuns do nosso dia a dia, o celular, também pode ser usado com esse intuito. De acordo com eles, o padrão de micro-organismos em um celular é único, fora que também existem diferenças entre as partes de trás e da frente do aparelho, já que um costuma ficar em contato com as mãos e o outro, com o rosto, especialmente a boca. Essas observações são corroboradas por estudos anteriores que demonstram como comunidades microbiais são diferentes dependendo de qual  parte do corpo elas vêm, e que a assinatura de cada pessoa é única.

Obstáculos A Vencer


Entretanto, os autores também apontaram as dificuldades presentes em implementar essa pesquisa. O microbioma das solas costuma mudar ao longo do dia, o que poderia dificultar a localização de uma pessoa que andou muito. Pela mesma lógica, o microbioma de uma certa superfície também muda se muitas pessoas andam sobre ele.

Mas o microbioma tem outros usos em potencial na investigação forense, fora localizar suspeitos. Nos últimos anos, muita pesquisa foi dedicada ao estudo das mudanças nos micróbios presentes em corpos em decomposição, batizado de “necrobioma”, como forma de determinar a hora da morte. A razão para esse estudo segue a mesma linha de outro método comum na disciplina forense: entomologia. Insetos que fazem ninho em cadáveres em intervalos específicos são usados nessa área para responder uma das perguntas mais importantes em um caso de homicídio: quando? Isso porque dá para se prever quais insetos colonizarão um cadáver em cada intervalo de tempo após a morte, então estudá-los revela informações sobre o tempo mínimo desde o óbito.

Exposição dos insetos que se estabelecem em cadáveres ao longo do tempo.
Esse pequeno estudo é importante, mas não será uma revolução para os que atuam na área. Ele é simplesmente o “Princípio da Troca de Locard”, um dos pilares da investigação forense, estendido ao nível microbial: “Todo contato deixa um traço”. Ainda há muito trabalho a fazer para determinar o uso prático desse método no futuro. Um bom jeito de começar seria aumentar a escala dos experimentos, com mais voluntários.

Fonte: IFLScience

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