quarta-feira, 15 de abril de 2015

Hodor hodor hodor. Hodor hodor? Hodor. Hodor-hodor. Hodor! - Quarta Científica #10




Perdão, deu para entender o título do post?

Quem é fã do sucesso da HBO Game of Thrones, que iniciou sua quinta temporada domingo passado, vai pescar a referência. Hodor é o cavalariço forte de braço e fraco de cabeça da família Stark de Winterfell. Sua característica mais conhecida, claro, é que ele só consegue falar uma palavra: "Hodor."

Mas quem leu a série Crônicas de Gelo e Fogo de George R.R. Martin sabe de uma coisa que quem se atem à série não: o nome dele não é Hodor. De acordo com sua bisavó , a Velha Nan, seu nome verdadeiro é Walder. "Ninguém sabe de onde saiu essa palavra 'Hodor'," diz ela, "mas quando ele começou a dizê-la, começaram a chamar ele disso. Era a única palavra que ele sabia."

Intencionalmente ou não, Martin criou um personagem que é um exemplo clássico do portador de uma doença neurológica chamada afasia expressiva.

Perdendo a Fala


Em 1861, o médico francês Paul Broca foi apresentado a um homem chamado Louis-Victor Leborgne. Apesar de seu discernimento e funções mentais continuarem relativamente normais, ele progressivamente perdeu a habilidade de falar coerentemente ao longo de 20 anos. Assim como Hodor, o homem recebeu o apelido de Tan, porque era a única palavra que ele conseguia falar.

Leborgne faleceu poucos dias depois de conhecer Broca. A autópsia revelou que ele tinha uma lesão no lobo frontal do hemisfério esquerdo do cérebro, ao lado de uma dobra chamada sulco lateral. Durante os dois anos seguintes, Broca conseguiu o cérebro de outros 12 pacientes com os sintomas de Leborgne - todos com evidências bem consistentes.

Os neurocientistas ainda estão examinando essa pequena região do cérebro, hoje chamada informalmente de "Região de Broca", para descobrir suas muitas funções.  A maior parte da pesquisa tem sido dedicada à inabilidade do paciente de formar frases complexas quando há dano na região, mas alguns esforços recentes que fizeram uso de Ressonância Magnética Funcional (fMRI na sigla em inglês) também descobriram que a área se ativa durante tarefas de compreensão de linguagem, interpretação de movimentos e até reconhecimento de gestos associados a comunicação, como dar tchau com a mão.

Fala Telegráfica e Dano Cerebral


Em parceira com cientistas franceses em 2007, um grupo da Universidade da califórnia reexaminou os cérebros de Leborgne e Lelong (outro dos pacientes de Broca, capaz de falar apenas cinco palavras) usando escâneres de ressonância magnética. Um dos achados mais interessantes foi que as lesões eram muito mais profundas do que Broca reportou, o que sugere que problemas de fala são ligados a múltiplas regiões do cérebro.

Evidências de dano generalizado não são nenhuma surpresa. Leborgne, Lelong e mesmo Hodor são exemplos de casos extremos de afasia expressiva. O mais comum é que alguém com essa doença se expresse em "fala telegráfica", que geralmente se resume a três palavras, com um verbo e um substantivo. Por exemplo, para dizer "Eu e Anne passeamos com o cachorro", a pessoa diria "Anne, cachorro, passear".

A causa mais comum de afasia expressiva é um derrame, quando um coágulo de sangue entope uma vaso do cérebro, causando lesões por falta de oxigênio. Estima-se que a doença ocorra em 12% das vítimas de AVC, enquanto que 35% adquirem alguma afasia comunicativa em geral.

Ela também pode ser causado por tumores, hemorragias, hematomas nas membranas que cobrem o cérebro, ou traumatismo na área da cabeça. Relata-se que Leborgne sofria de ataques epiléticos na infância - o que gerou especulações de que ele tenha sofrido algum ferimento na cabeça durante algum episódio desses.

E qual será a história de Hodor? Pancada na cabeça, derrame, ou simplesmente era um bebê gigante que a mãe deixou cair?

Ele pode só falar uma palavra, mas como a maioria dos personagens de Game of Thrones, Hodor pode esconder uma história muito interessante.



E canta muito bem.

Fonte: IFLScience

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