quarta-feira, 22 de abril de 2015
Não Adianta Chorar Sobre o Leite Derramado, Mas E Sobre o Champanhe Naufragado? - Quarta Científica #11
Após recuperarem garrafas de cerveja de um navio naufragado que está no fundo do mar há 170 anos, cientistas chegaram à conclusão de que ela incorporou os buquês de bode e queijo velho - gotôso. Mas e quanto a champanhe, que pode ficar melhor conforme a idade? Aparentemente, garrafas de champanhe retiradas do mesmo naufrágio exibiram um aroma lácteo, com leves tons de animal. Acho que estamos vendo um padrão aqui.
Fora esse perfume incomum, a equipe também descobriu que as alcoólicas relíquias eram bem mais doces do que as que consumimos hoje. Além disso, as análises feitas em laboratório revelaram que o leito marinho oferece condições de armazenamento ideais para champanhe e nos proporcionaram um interessante fragmento da história da fabricação de vinhos do século XIX. As descobertas foram publicadas na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
As antiguidades foram descobertas em 2010 dentro de um navio naufragado no fundo do Mar Báltico, próximo das ilhas Åland. Junto com as cinco garrafas de cerveja, 168 de champanhe foram recuperadas, e algumas delas foram compradas por dezenas de milhares de dólares. Os rótulos não foram capazes de sobreviver 170 anos em água salgada, mas os pesquisadores puderam descobrir sua origem pelas marcas nas rolhas, que os levaram às fabricantes Veuve Clicquot Ponsardin, Heidsieck e Juglar.
Diferente da cerveja rançosa e bodesca, a champanhe aparentemente ainda estava bem gostosa. Depois da degustação de praxe, amostras foram levadas a um laboratório para que sua diversidade molecular e química fosse investigada, e isso levou a fascinantes descobertas sobre o processo de fabricação da época.
O mais relevante é que a champanhe é incrivelmente doce, possivelmente devido à adição de xarope de uva antes da bebida ser engarrafada. Algumas champanhes dos dias de hoje não contêm açúcar nenhum e alguns dos tipos mais populares contêm por volta de dez gramas por litro. Mas a nossa Tom Hanks das champanhes contém um teor mata-diabético de 140g por litro. Está bem longe do que estamos acostumados, mas aparentemente esse era o padrão da época.
Acreditava-se que essa doce viagem tivesse a Rússia como destino, mas uma pesquisa de documentos históricos revelou que os russos gostavam de vinhos mais doces ainda, contendo incríveis 300g de açúcar por litro. Esse fato levou a especulações de que a carga viajava para a Alemanha, onde o gosto era por champanhe só levemente doce.
As amostras também continham taninos de madeira e altos níveis de ferro, o que indica um processo de fermentação feito em barris de madeira com pregos de metal. Mas, ao que tudo indica, a fermentação ainda não era uma arte tão refinada na época, já que as amostras tinham em torno de 3% menos álcool que as champanhes modernas.
Apesar das primeiras degustações terem desapontado, com as champanhes tendo gosto de queijo, cabelo molhado e animais, depois de um tempo de oxigenação, as amostras se tornaram temperadas, defumadas e frutadas. Um dos especialistas chegou a dizer que ele conseguia sentir tons de mel e trufas.
A incrível preservação das bebidas se deve às condições apresentadas pelo leito marinho, com temperaturas constantes de 2 a 4ºC e baixa luminosidade. Por causa disso, os cientistas vão continuar colhendo amostras a cada poucos anos para comparar com garrafas armazenadas das formas tradicionais e descobrir que efeitos a temperatura e a pressão têm no vinho.
Fonte: IFLScience
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