quarta-feira, 1 de abril de 2015

Manipulação Genética: Lindo Se Der Certo, F*deu Geral Se Der Errado - Quarta Científica #8




A habilidade de mudar, com precisão, quase qualquer parte de qualquer genoma, mesmo o de espécies complexas como os humanos, pode logo se tornar realidade através da edição de genoma. Mas, com grandes poderes vêm grandes responsabilidades - e são poucos os temas que geram tantas discussões acaloradas sobre certos e errados morais.

Muito embora técnicas de engenharia genética tenham existido já há algum tempo, edição de genoma pode produzir os mesmos resultados com menos chance de erro, custo menor e de maneira mais simples do que antes - apesar da tecnologia ainda estar longe da perfeição.

A edição de genoma oferece um nível maior de controle e precisão na mudança de sequências específicas de DNA. Ela pode ser usado para ciência básica, para melhorar a saúde humana ou mesmo a qualidade das lavouras. Existem várias técnicas, mas a mais comum provavelmente são as repetições curtas palindrômicas aglomeradas regularmente inter-espaçadas, ou CRISPR na sigla em inglês.

As CRISPR fizeram com que acadêmicos preocupados dos Estados Unidos pedissem uma moratória para a edição de genoma. Já que a técnica mais fácil de usar e, portanto, pode ser implementada de maneira ampla e rápida, existe o medo que ela comece a ser usada rápido demais - prejudicando nossa compreenção da segurança do método e impedindo oportunidades de como uma ferramenta tão poderosa deve ser controlada.

A Volta À Ética da Genética


Questões éticas a respeito de modificações genéticas não são novidade, especialmente quando diz respeito aos humanos. Apesar da edição de genoma aparentemente não gerar questões totalmente novas, há mais na edição do que simplesmente modificação genética.

Para começar, não existe um consenso sobre se a edição genômica é só um passo à frente ou se é uma tecnologia iconoclasta capaz de alterar o estado atual das coisas. Se esse for o caso - e é bem possível que seja - nós teremos que pensar com cuidado a respeito das suas implicações éticas, inclusive se o regulamento atual ainda é apropriado.

Em segundo lugar, existem questões sérias sobre o escopo e escala das modificações genéticas. Conforme mais pesquisadores usarem as CRISPR para fazer mais mudanças, a perspectiva tende a mudar. Nossa opinião sobre uma tecnologia que é raramente usada, só em casos específicos, vai ser diferente da opinião sobre uma que é amplamente usada para vários fins.

Se chegarmos nesse ponto, teremos que rever as conclusões dos primeiros anos do debate sobre modificações genéticas. Atualmente, é permitido, sob muita supervisão, modificar plantas, alguns tipos de animais e células não-hereditárias em humanos. Mas não se permite modificações em células humanas herdáveis, exceto pela decisão recente do Reino Unido, que permite reposição mitocondrial.

Isso significa medir os benefícios, riscos e danos em potencial, a gama de aplicações possíveis para a edição de genoma é tão variada que nem esse tipo de análise é simples de fazer.

Usando Para o Bem e Para o Mal


Técnicas de edição de genoma tem sido usadas até então para mudar os genes de células individuais e em organismos inteiros não-humanos. Os benefícios até agora incluem uma forma mais específica de terapia genética em portadores animais de algumas doenças, como Distrofia Muscular de Duchenne. Também espera-se que ela leve a um maior entendimento da estrutura, função e regulação de genes. Modificações genéticas feitas por edição de genoma já criaram plantas resistentes a herbicidas e infecções.

Mas a polêmica mesmo gira em torno de como a edição de genoma pode ser usada para alterar os seres humanos. Apesar de ser um tema popular de ficção científica, na vida real a nossa capacidade de realizar as engenharias genéticas vistas em obras como Gattaca e Admirável Mundo Novo não está nem perto de sair do papel.

A edição de genomas tem o potencial de mudar isso, nos apresentando a real possibilidade de mudar qualquer aspecto do genoma humano do jeito que quisermos. Isso pode significar a eliminação de doenças genéticas ou o desenvolvimento de traços considerados vantajosos, como resistência a doenças. Mas essa habilidade também pode abrir as portas para a eugenia, onde aqueles com acesso à tecnologia moldariam as gerações seguintes com os traços que eles considerem desejáveis: cor dos olhos, da pele, do cabelo, altura etc.

Edições Permanentes


A preocupação que gerou a moratória dos acadêmicos norte-americanos é com o potencial de alterar o genoma transmissível humano, o que torna possível nossos filhos herdarem as alterações. Terapias genéticas que produzem mudanças não-herdáveis em um genoma são éticamente aceitas, em parte porque não há risco para a próxima geração se as coisas derem errado. No entanto, até hoje só uma doença, a imunodeficiência combinada grave - foi curada desse modo.

Alterações hereditárias acarretam discussões éticas muito maiores. Um erro pode acabar prejudicando pessoas no futuro, porque ele tende a se espalhar para todas as células. Mas, claro, do outro lado da moeda, se bem executadas, as alterações transmissíveis tambem poderiam gerar soluções permanentes para doenças genéticas. No entanto, ainda não há pesquisas considerando isso em humanos.

De qualquer jeito, mesmo se o processo de mudar uma característica herdável seja seguro, os problemas éticos de escopo e escala trazidos pela edição de genoma permanecerão. Se uma técnica puder ser usada de maneira ampla e eficiente e sem uma supervisão cuidadosa, ela pode rápidamente se tornar um parâmetro ou uma expectativa. Aqueles sem acesso a essas mudanças favoráveis, sejam eles humanos suscetíveis a doenças ou sem traços melhorados, ou mesmo fazendeiros sem animais e vegetais geneticamente modificados, podem acabar em uma situação de grave e injusta desvantagem.

Fonte: IFLScience

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