segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Eu Gosto de Trens - Tecno-Segunda #26


A cada dia que se passa, a população mundial se torna mais urbanizada, e estima-se que o número de jornadas medidas em passageiros por quilômetro vá triplicar até 2050. Um aumento desses simplesmente não pode ser absorvido pelas estradas.

Ferrovias, com sua capacidade de levar mais pessoas mais rápido e com mais eficiência, são a melhor aposta para a nossa nova espinha dorsal de transporte. E, claro, as imaginações férteis dos engenheiros já criaram muitas alternativas ao padrão "metal no metal" das ferrovias. Trens maglev e o amplamente divulgado mas até então teórico Hyperloop são os que se considera mais promissores - mas será que eles realmente representam o futuro do sistema ferroviário?

Maglev



A levitação magnética (ou maglev) usa poderosos imãs para impelir o trem ao longo de uma linha dedicada que deve ser tão reta quanto possível. A força de atração entre eletroimãs controlados eletronicamente dentro do veículo e a linha-guia ferromagnética puxa o trem para cima enquanto outro grupo de imãs o impedem de sair pelas laterais da linha. Essa versão da tecnologia foi desenvolvida na Alemanha e, no momento, é usada para ligar o aeroporto de Xangai com o centro da cidade com trens que chegam a 430 km/h.

Apesar disso, o país mais associado ao maglev é o Japão. Eles, que iniciaram a era moderna dos trens-bala também estão tentando definir seu próximo capítulo. Levitação magnética supercondutora (SCMaglev) já vem sendo desenvolvida há décadas, mas recentemente foi aprovada para construção na linha entre Tóquio e Osaka até 2027, sendo capaz de completar a jornada de 500km em pouco mais de uma hora. Diferente do sistema Transrapid em Xangai, o princípio maglev japonês usa imãs "supercondutores" mais fortes e um design de condução baseado em forças repulsoras ao invés de atrativas.

Mas embora o maglev seja tecnicamente possível, sua viabilidade comercial é questionável. O custo inicial de infraestrutura é muito alto - a linha SCMaglev japonesa deve custar $9 trilhões de ienes ($72 bilhões de dólares). Ela também não pode ser integrada a sistemas préexistentes e tem um custo energético astronômico, tanto durante a construção como durante a operação. Isso gera uma dúvida considerável quanto ao potencial verdadeiro do maglev como uma alternativa à tecnologia convencional de transporte em alta velocidade.

Hyperloop



O Hyperloop é uma ideia elegante: viajar com perfeito conforto a velocidades de 1,220km/h (isso mesmo, pouco menos que a velocidade do som) em cápsulas elegantes que podem chegar até uma vez a cada trinta segundos é uma ideia muito atraente. O conceito se baseia em tubos bem retos com um vácuo parcial aplicado sob as cápsulas. As cápsulas, por sua vez, tem um compressor elétrico no nariz que transfere o ar altamente pressurizado da proa para a popa, criando um bolsão de ar que impele a capsula assim que ela for posta em movimento por um motor elétrico linear. E tudo isso alimentado por baterias e energia solar.

Do ponto de vista técnico, é um desafio. Mas, se existe alguém capaz de vencê-lo é justamente o homem que teve a ideia, Elon Musk, a mente por trás da SpaceX e da Tesla. Entretanto, o Hyperloop não é uma ferrovia. Nas palavras de Musk, é um quinto meio de transporte (depois dos trens, carros, barcos e aviões). O projeto atual liga Los Angeles a São Francisco, cidades que ficam a centenas de milhas uma da outra mas que podem ser ligadas quase em linha reta sobre uma superfície quase que inteiramente plana. E isso não serve para grande parte do mundo.

No final de tudo, se o Hyperloop acontecer, vai ser um sistema próprio, não um substituto para os trens.

O que mais?


Na prática, a grande maioria de nós vai continuar a viajar em trens não muito diferentes dos de hoje em dia. O Reino Unido está para receber a entrega de 122 trens que farão a maior parte do transporte intermunicipal de passageiros nas próximas décadas. Eles ainda podem estar funcionando em 2050, depois, claro, de várias reformas.

Um nivel maior de automação deve se espalhar não só nas ferrovias como em todo tipo de viagem. Trens operados automaticamente já são usados em alguns sistemas urbanos, permitindo uma menor distância entre trens na mesma linha. Espera-se que o futuro todos os trens de grandes linhas sejam capazes de se comunicar uns com os outros, o que permitiria uma quantidade de trens muito maior, aumentando a qualidade e a quantidade do serviço. Por consequência, sinalizações físicas ao longo das linhas se tornariam redundantes, permitindo uma disposição mais simples para novos trilhos. Um melhor uso de energia em ferrovias elétricas intermunicipais também devem ter um papel importante. Por exemplo, sistemas de armazenamento de energia e estações avançadas de distribuição vão deixar os sistemas ferroviários mais inteligentes.

Planos para o futuro ainda precisam ser feitos com cuidado, mas os investimentos em ferrovias de última geração pelo mundo ainda são, em grande parte, baseados no princípio "metal no metal". E não há razão para duvidar que ele vai definir o futuro do transporte ferroviário nas próximas décadas, do mesmo jeito que tem feito desde a criação dos trilhos de trem 200 anos atrás.

Fonte: IFLScience

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