terça-feira, 22 de setembro de 2015

Não Faça Amor Nem Guerra - Terça no Cinema #31


Contatos Imediatos do Terceiro Grau é um filme para se contemplar, imaginar e se empolgar com o desconhecido. Ao mesmo tempo, embora nunca seja tão assustador para os espectadores, ele reconhece o horror que existe em certos mistérios. Uma vez que todo mundo parece estar feliz no final, não importa que uma criança tenha sido roubada de sua mãe e com certeza não importa o que aconteceu com ele a bordo, ou por que. O reencontro e o sorriso em seu rosto são o suficiente para que esqueçamos o terror que ela sentiu ou o medo que alimentou sua curiosidade a respeito do pouso do OVNI que foi o clímax do filme, sem, no entanto, desconsiderar que eles existiram.

A versão original de Contatos Imediatos evitou nos mostrar o que acontecia dentro do OVNI, mantendo segredo sobre o que aqueles alienígenas estavam fazendo com os inúmeros humanos que abduziram ao longo de várias décadas. Ainda era possível dar o benefício da dúvida aos extraterrestres. Mesmo após a infeliz decisão de Steven Spielberg de colocar cenas do interior da nave-mãe alienígena para a segunda estréia em 1980, não havia nada com que se preocupar. A cena extra, que mais tarde foi removida em outra versão do filme, é só para agradar aos olhos. O que não quer dizer que o filme seja completamente ambíguo. Os alienígenas, na maior parte do tempo, parecem ser inofensivos e convidativos. Presume-se que o personagem de Richard Dreyfuss vai se divertir.

Spielberg acertou em quase tudo, mas o problema com filmes de abdução alienígena é que eles pendem demais ou para o lado do terror ou para o da fantasia. Ou os alienígenas são monstros que querem fazer experiências horríveis e dolorosas nas pessoas, o que os coloca mais perto da categoria de filmes de invasão, ou eles só vieram convidar alguém para ser um herói em uma guerra intergalática, visitar um planeta onde ninguém morre, ou simplesmente dar uma volta divertida em uma espaçonave controlada por um computador com a voz do Luciano Huck. Esse último tipo provavelmente nem merece a alcunha de filme de abdução, já que não existe a conotação de sequestro, mas mesmo assim eles são basicamente sobre a mesma coisa.

Provavelmente o único alienígena capaz de ao mesmo tempo divertir e aterrorizar uma pessoa abduzida.
Só que, essa coisa é algo que deveria despertar o fascínio. Não necessariamente sonhos ou pesadelos, só uma situação inexplicável que prenda a nossa atenção. É o que se esperaria de filmes baseados em fatos supostamente reais, como a história de Betty e Barney Hill, os famosos primeiros humanos abduzidos que estão ganhando um novo filme, sob o controle da produtora da série Maze Runner. Por mais que tiremos sarro da franquia e sua estratosférica pilha de perguntas sem resposta, o primeiro filme, em especial, consegue mostrar a natureza misteriosa que atrai nosso interesse em histórias não-ficcionais de abduções alienígenas.

Na maior parte, as adaptações para o cinema dessas histórias tendem para o lado do pesadelo. Estranhos Visitantes e Fogo no Céu mostram suas cenas dentro das espaçonaves como cenas de horror, e o que acontece lá certamente é aterrorizante para os abduzidos. Mas esses são relatos de experiências, tornadas assustadoras pela estranheza e falta de compreensão, que fazem parte de uma excursão maior. E os abduzidos sempre voltam para casa razoavelmente bem, fora um leve resquício de trauma em seus subconscientes. Ninguém se surpreenderia de descobrir que os abduzidos de Contatos Imediatos passaram por experiências parecidas, mas elas não são mostradas para o público, nem os efeitos posteriores que elas tiveram nos sobreviventes.

Do mesmo jeito que Maze Runner e sua sequência, Maze Runner: Prova de Fogo têm cenas em estilo horror dentro de suas histórias maiores de mistério e aventura, mas não são filmes de horror, um filme mostrando o incidente dos Hills deveria mostrar eventos assustadores para os personagens, mas sem ser um filme assustador em sua totalidade. O X da questão do caso Hills é que a abdução em si não é tão interessante, quando classificada e comparada com o resto do fenômeno e com tudo que já foi feito no cinema com esse tipo de história. O que interessa mesmo é o contexto maior dos dois, já tendo sofrido muito preconceito por serem um casal inter-racial e, claro, terem sido o primeiro caso de abdução amplamente divulgado.

O novo filme, que será baseado no livro Captured! The Betty and Barney Hill UFO Experience: The True Story of the World’s First Documented Alien Abduction, de 2007, promete dedicar bastante tempo aos contextos raciais e da Guerra Fria, o que dá a esperança de que ele vá ser algo mais profundo do que a maioria dos filmes falando deste tipo de assunto. "Eles eram um casal inter-racial em um país que ainda tinha leis segregacionistas, e eles viviam em uma cidade bem do lado de uma base aérea cheia de armas nucleares. O que eles sabiam e por que eles foram os alvos são conteúdo para um filme fenomenal", disse Jackie Zabel, Presidente da Stellar Productions e esposa do roteirista do filme, Bryce Zabel.

Entretanto, uma coisa que Capturados, o título atual do filme, provavelmente não vai capturar é a curiosidade contínua e não-assustadora de muitas histórias de abduções alienígenas que deixou os fãs do gênero tão cativados. Eu confesso: na minha juventude, eu fui um desses fãs. Eu ia em leituras coletivas de autores como Whitley Strieber, de Estranhos Visitantes, e ficava obcecado com livros e revistas que falavam do relato dos Hills e de outros (em especial, as longas e complexas histórias e diagramas de Betty Andreasson Luca). E eu não consigo imaginar esse aspecto do apelo do fenômeno, aquele mistério sem fim de por que os alienígenas supostamente estariam abduzindo pessoas, sendo transferido completamente para as breves sessões de cinema.


Não que seja impossível de se fazer. Apesar de ter ficado fora do que acontece dentro da nave (na medida do possível), Spíelberg meio que mergulhou na toca do coelho da narrativa estilo País das Maravilhas que é a que mais se encaixa em uma história de abdução (especialmente as de Andreasson Luca), enquanto evitava as armadilhas do gênero de horror. O problema para a maioria das histórias se passando dentro das naves é que o público geral tende a julgá-los levianamente como absurdas e/ou clichê, especialmente aquelas histórias que se dizem verdadeiras. Se Capturados puder ser levado a sério e se focar mais nos elementos pé-no-chão da história dos Hills do que nos acontecimentos com os alienígenas, mais duros de engolir (seja lá como eles sejam representados nessa versão), será mais fácil o público aceitá-lo. Já para aqueles dentre nós que se interessam pela parte dura de engolir (quer a engulamos ou não), talvez não seja tão bom assim.

Com sorte, será um passo que unirá ambas as visões. Spielberg também produziu a mais extensa minissérie Taken, que cobre a mitologia maior do fenômeno das abduções e, em grande parte, acerta nos aspectos mais curiosos que atraem a mim e, presumo, a outrem. Zabel também trabalhou em Taken e co-criou sua predecessora Os Escolhidos, que também lida com uma narrativa maior de OVNIs claramente baseada em uma familiaridade com relatos "factuais". Ele provavelmente é a pessoa mais qualificada para levar a história dos Hills para as telonas, mas eu também creio e torço que ele seja a pessoa que nos trará mais histórias grandiosas e fidedignas do fenômeno, além da que é considerada a primeira.

Fonte: Film School Rejects
Imagens: Film School Rejects, Entretenimento Ácido e Pinterest

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