quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Que Tal Parar Com Essa Frescura De Colocar Barbatana De Tubarão Na Sopa? - Quarta Científica #29


Se você soubesse que a chance de ser comido por um tubarão era de 0%, você nadaria com mais frequência? Perguntas retóricas à parte, o medo de ser comido tem uma influência profunda também nos outros animais, e no jeito como eles usam o ambiente marinho.

As tartarugas, por exemplo, têm medo de serem comidas por tubarões, e isso restringe o movimento e o comportamento de populações inteiras. Mas, quando esse medo some, podemos ver que as tartarugas comem mais, se reproduzem mais e vão aonde querem.

Por mais que isso seja um paraíso para elas, em um artigo publicado hoje na revista Nature Climate Change, nós demonstramos que a perda de predadores marinhos pode ter sérios efeitos cascata no armazenamento oceânico de carbono e, por consequência, no aquecimento global.

Efeitos Cascata


Nós já sabemos há um bom tempo que mudanças na estrutura das teias alimentares - especialmente as causadas pela perda de grandes predadores - pode alterar o funcionamento de um ecossistema. Isso acontece de maneira mais perceptível nas situações em que a perda dos predadores no topo da cadeia alimentar liberta os organismos abaixo dele do controle regulatório decrescente. Por exemplo, a perda de um predador tende a permitir que a população da sua presa aumente, o que vai aumentar o consumo das presas dela, e por aí vai. A isso se dá o nome de "regressão trófica".

Com a perda de cerca de 90% dos grandes predadores do oceano, a regressão trófica está acontecendo em todo lugar. Isso perturba os ecossistemas, mas, em nosso artigo, também denunciamos os efeitos que isso tem na capacidade dos oceanos de capturar e armazenar carbono.

Isso pode acontecer em vários ecossistemas, especialmente nas zonas costeiras. É lá que a maior parte do carbono do oceano é armazenado, dentro de ecossistemas de erva marinha, sapal e mangue - apelidados de ecossistemas de "carbono azul".

Ecossistemas de carbono azul capturam e armazenam carbono 40 vezes mais rápido que as florestas tropicais (como a amazônica) e podem armazená-lo por milhares de anos. Isso os torna um dos dissipadores de carbono mais eficazes do planeta. Apesar de ocuparem menos de 1% do solo do oceano, estima-se que os ecossistemas de carbono azul costeiros sequestram mais da metade do carbono do oceano.

O que é armazenado pelos ecossistemas azuis fica preso dentro dos corpos de plantas e sob o solo. Quando predadores como tubarões e outros peixes grandes são removidos desses ecosistemas, ocorre um aumento nos organismos herbívoros que pode destruir a capacidade dos habitats de sequestrar o carbono.

Por exemplo, nos campos de erva marinha de Bermuda e da Indonésia, a diminuição da predação nos herbívoros ocasionou uma perda gigantesca da vegetação, com 90 ou até 100% das plantas acima do solo sendo removidas.

Parem de Matar Predadores


Essas perdas de vegetação também pode desestabilizar o carbono enterrado e acumulado ao longo de milhões de anos. Por exemplo, a extinção de um sapal de 1.5km² em Cape Cod, Massachusetts, causada pela pesca recreacional excessiva de peixes e caranguejos predatórios, acabou por liberar cerca de 248.000 toneladas de carbono do subsolo.

Se apenas 1% da área global de ecossistemas de carbono azul for afetada pelo efeito cascata na cadeia alimentar, como ocorreu nesse último exemplo, o resultado seria uma liberação anual de 460 milhões de toneladas de CO2, o equivalente às emissões anuais de cerca de 97 milhões de carros, ou um pouco menos do que a emissão anual de gases estufa da Austrália.

E o que pode ser feito? Para começar, esforços maiores pela conservação da vida marinha e a modificação das leis de pesca podem ajudar a restaurar as populações de predadores marinhos e, portanto, ajudar a manter o importante papel indireto que eles têm na mitigação da mudança climática.

O que temos que fazer é restaurar o equilíbrio, para termos, por exemplo, números saudáveis e naturais tanto de tartarugas quanto de tubarões. As políticas e a administração precisam ter em mente essa importante descoberta com urgência.

Mais de 100 milhões de tubarões podem estar sendo mortos em pesqueiros todos os anos, mas se pudermos dar proteção suficiente para esses predadores, talvez eles acabem nos salvando no final.

Fonte: IFLScience

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