quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Olhos Nos Olhos, Quero Ver O Que Você Diz... Quando Acabar Entrando Em Uma Bad Trip... - Quarta Científica #26


Esqueça o LSD: o bagulho do momento são olhos. Não para se consumir, claro, mas para se olhar fixamente para eles por um período elevado de tempo. Aparentemente, isso pode levar a estados alterados de consciência.

Essa intrigante descoberta foi feita pelo pesquisador de visão Giovanni Caputo da Universidade de Urbino, na Itália, mas ele já tem outras experiências com concursos de encarar. Alguns anos atrás, o cientista recrutou 50 voluntários e pediu que eles olhassem para seus próprios reflexos em um espelho durante dez minutos em uma sala pouco iluminada. Em menos de um minuto, a maioria deles já começava a viajar.

Seus rostos começaram a mudar e se deformar, tomando a aparência de animais, monstros ou mesmo de parentes falecidos; esse fenômeno foi nomeado, muito criativamente, de "ilusão do rosto estranho". Mas, ao que parece, esses efeitos bizarros se tornam ainda mais visíveis quando o rosto é o de outra pessoa.

Descrito na revista Psychiatry Research, o estudo de Caputo recrutou 40 jovens adultos e os separou em pares. Cada par, então, sentou em cadeiras em uma sala escura, a um metro de distância. A iluminação foi controlada para permitir que os participantes pudessem perceber traços faciais discretos, mas tivessem a percepção de cores reduzida. Metade dos participantes se sentou um de frente para o outro, olhando para as expressões neutras dos parceiros, enquanto a outra metade sentou de costas para os parceiros, olhando para a parede. Para ter certeza que os efeitos não fossem influenciados pela expectativa, os participantes não foram informados da natureza do estudo, só que incluiria uma experiência de meditação.

Depois de dez minutos, os participantes preencheram questionários sobre suas experiências na sala, que revelaram alguns efeitos bem interessantes. De acordo com a Sociedade Britânica de Psicologia, os membros do grupo que ficaram de frente uns para os outros descreveram niveis maiores de atenuação da intensidade das cores que o grupo de controle, e também que pareciam ouvir ruídos mais altos do que o normal. O tempo pareceu diminuir de velocidade e eles se sentiram divagando. Além disso, quase 90% dos participantes alegaram ter visto o rosto do parceiro se deformar, 75% viram seres monstruosos e 15% chegaram até a ver traços do rosto de um parente aparecerem no outro.

De acordo com Caputo, as sensações informadas pelos jovens são sintomas de dissociação, um termo usado para descrever um abandono da conexão de uma pessoa com a realidade. O mais interessante é que ele descobriu que os sintomas se relacionavam com deformações faciais, mas não com o aparecimento de rostos estranhos. Ele teoriza que essas alucinações, os "espectros de rosto estranho", podem ser uma consequência da volta brusca à "realidade" após entrar em um estado dissociativo causado pela falta de estimulação sensorial. Entretanto, até agora, isso contém muita especulação e parece contradizer outra possível explicação que Caputo tinha proposto.

Quando olhamos para um ponto central por muito tempo, elementos que estejam na periferia da visão começam, gradualmente, a desaparecer, um efeito chamado de "Efeito Troxler". Mas, se isso fosse explicar o que aparentemente acontece, então seria de se esperar que os traços faciais fossem desaparecendo, não tomando formas estranhas. E, como apontado pela Scientific American, se alguma informação visual estiver faltando, o cérebro preenche essas lacunas baseado em expectativas ou experiências.

Está claro que ainda temos muito a aprender sobre esses estranhos fenômenos, e Caputo foi o primeiro a admitir que seu trabalho ainda está engatinhando. Seria interessante descobrir o que causa essas estranhas alucinações, já que, apesar da baixa luminosidade ser necessária, ela não pode ser a única causa, já que o grupo de controle não sentiu os mesmos efeitos.

Fonte: IFLScience

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