quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Rio 40 Graus? Fichinha - Quarta Científica #32


O Golfo da Pérsia já é uma das regiões mais quentes do mundo, mas até o fim do século, o aumento do calor em combinação com umidades intensas vão tornar a região quente demais para ser habitável, de acordo com uma pesquisa publicada na Nature Climate Change.

Aquecedores e ares-condicionados atualmente permitem que os humanos vivam em qualquer lugar, desde a Sibéria até o Saara. No entanto, as ondas de calor previstas para o Golfo, onde as temperaturas vão atingir regularmente os 50ºC ou mesmo 60ºC, vão forçar o limite da adaptação térmica que as construções podem nos prover.

Nossos ancestrais viviam sem os sistemas sofisticado de controle térmico que usamos em construções modernas; inconscientemente, eles usavam "desenhos bioclimáticos" diferentes, como ventilação natural ou janelas que se abrem para o sul, e esses conhecimentos ainda são valiosos em muitos climas hoje em dia. Mas os dados recentes sugerem que não será o bastante.

Será, então, que existe um futuro para a habitação das regiões mais quentes do mundo? Migração em massa parece mais provável que continuar vivendo no mesmo lugar e aceitar o desafio, mas descobrir como viver de maneira confortável e sustentável quando estiver quente o bastante para fritar um ovo na calçada pode mudar nosso jeito de ver o design ambiientalmente sensível e o desenvolvimento urbando pelo mundo afora.

Vivendo com o Calor Intenso


O clima é um problema, mas ele também oferece oportunidades. A quantidade de luz solar disponível significa que não haverá falta de eletricidade, muito embora seja necessário criar sistemas eficientes de armazenagem. Também poderemos tirar vantagem da variação da temperatura ambiente durante o ciclo do dia e da noite usando técnicas de "massa termal" para equilibrar as flutuações de temperatura.

Será necessário fazer grandes mudanças no design das construções - estruturas muito reflexivas que absorvem calor vão virar dinossauros arquitetônicos. Ideias tradicionais das regiões quentes da Terra vão voltar a aparecer: paredes grossas que geram estabilidade térmica (melhoradas com materiais inteligentes, com camadas de isolantes ou mesmo materiais com "mudanças de fase"), usadas em conjunto com janelas pequenas. As superfícies dos prédios terão que ser cobertas com materiais inteligentes que refletem o calor absorvido - e eles já existem e foram testados por pesquisadores em cidades como Atenas, que têm verões muito quentes.


Será necessário otimizar os lugares e momentos em que ocupamos prédios, buscando os lugares mais frescos e tirando vantagem de condições noturnas menos intensas. Talvez acabemos vivendo parcialmente sob a terra, para nos beneficiarmos das temperaturas menores e mais estáveis que ocorrem alguns metros abaixo da superfície.

No calor intenso, encontrar sombra se torna algo essencial. Prédios, ruas, serviços e até sistemas de transporte inteiros terão que estar completamente na sombra, ou mesmo serem totalmente subterrâneos. Algumas dessas características já estão sendo exibidas no desenvolvimento de Masdar City em Abu Dhabi, muito embora o projeto (que teve forte influência visual de Norman Foster e seus parceiros) ainda não está totalmente operacional.

Liguem a Indústria do "Ar-Condi"


Podem esperar por um boom dos ares--condicionados. Isso será caro de construir e de manter, e será necessário criar sistemas feitos para temperaturas extremas. A termodinâmica dos designs atuais, que depende das diferenças de temperatura entre a absorção e a rejeição do calor, tornaria muito difícil atingir níveis suficientes e eficientes de remoção de calor conforme as diferenças mudassem e diminuíssem.


Uma possibilidade seria usar a Terra ou os mares e rios como dissipadores, ao invés do ar externo, já que eles estarão a temperaturas menores e poderão absorver o calor, embora não saibamos os efeitos a longo prazo disso. Também é possível que o ar-condicionado seja mais eficaz durante a noite para pré-refrigerar o prédio; as temperaturas do ar noturno devem permitir uma refrigeração mais eficiente.

O design das cidades e os jeitos como elas são usadas em épocas de calor extremo também terão que ser considerados. Andar ao ar livre sem proteção pode ser tão inimaginável quanto sair de uma estação de pesquisa no Ártico para dar uma volta pelado.

Obviamente, isso causará grandes problemas para aqueles que precisam trabalhar ao ar livre: pode ser necessário se construir lugares de refúgio, e até o próprio processo de construção pode acabar restrito aos meses de inverno (ou os meses um pouco mais frios, pelo menos). Os próprios materiais de construção terão que se modificar para poder lidar com mais stress termal e efeitos de expansão.

Cidades Quentes


A forma das cidades e o agrupamento de seus prédios principais terão que ser mudados, para que eles possam providencial um mínimo de auto-proteção. As ruas terão que ser desenhadas para otimizar as sombras e, quando possível, ventilação. Os espaços entre os prédios terão que ser pensados com cuidado e a infraestrutura (possivelmente subterrânea) poderá ser planejada junto com diversos serviços prestados aos cidadãos. Shoppings podem ser submersos e usados para conectar áreas diferentes da cidade, do mesmo jeito que as ruas subterrâneas funcionam nos invernos de cidades muito ao norte, como Montreal.

As próprias cidades talvez acabem se mudando das regiões costeiras devido à combinação problemática de altas temperaturas e altos índices de umidade que ocorrem perto de massas d'água. Em atmosferas mais secas, tecnologias tais quais o resfriamento evaporativo (fontes e sprays de água em sua forma mais básica) podem ajudar a reduzir a temperatura.

Uma alternativa tecnológica a isso pode ser o uso de materiais que absorvem a umidade (chamados de dessecantes regenerados) para desumidificar a atmosfera, mas fazer isso na escala certa seria uma tarefa complexa. Mudar cidades inteiras de lugar só pode ser um plano de longo prazo, mas é algo que vale a pena se considerar agora, enquanto ainda há tempo.

Fonte: IFLScience

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