terça-feira, 24 de novembro de 2015
Há Que Se Respeitar Um Final Tão Desesperador e Tão Genial - Terça No Cinema #38
Em 21 de novembro de 2011, um filme de horror sobrenatural estreou nos cinemas, falando de um grupo de pessoas presas em um supermercado e de uma névoa sinistra que os impede de fugir. Baseado no conto de Stephen King publicado em 1984, O Nevoeiro faturou mais de $25 milhões nos Estados Unidos, e mais de $57 milhões no mundo todo, de acordo com o Box Office Mojo. Claramente, foi um sucesso.
Entretanto, quando você menciona o filme para alguém que o tenha visto, o provável é que ele exclame "Argh, aquele final!" Se você não tiver visto o filme, pare o que estiver fazendo e vá ver, porque há spoilers gigantescos a caminho.
A primeira vez que eu vi O Nevoeiro deve ter sido em 2009 ou 2010. Um grupinho que estava na casa de um amigo meu decidiu assistir um filme de horror de que nós tínhamos ouvido falar, mas nunca tinhamos visto. Duas horas e seis minutos depois, estávamos todos sentados no escuro, entorpecidos. Ninguém disse uma palavra (bom, talvez um ou dois "Mas que p*rra?"s, mas nada além disso). Eu estava tão furioso que me lembro de quase levantar e dar um soco na TV do meu amigo. Sinceramente, nenhum filme tinha me afetado daquela maneira antes.
Após assistirem inúmeras pessoas serem mortas pela lula-alienígena-quase-Cthulhu, cinco pessoas estão sentadas em um carro, presas e esperando pela morte iminente. Cercados pela névoa, é óbvio que não há escapatória. Com uma pistola pequena e quatro balas à mão, David Drayton (Thomas Jane) faz o sacrifício supremo: ele usa as balas para matar seu filho pequeno (Nathan Gamble) e os outros três adultos no carro, poupando-os de uma morte ainda pior.
Tomado de um pesar inenarrável, David grita em agonia pura, e sai do carro, exigindo que os monstros o levem. Só que os monstros não vêm, não desa vez.
Menos de dois minutos após David matar seus entes queridos, a névoa lentamente se dissipa e revela homens em uniformes do exército dirigindo carros de resgate, cheios de pessoas que sobreviveram à experiência apocalíptica. Se David tivesse esperado mais dois minutos antes de matar os outros, todos teriam sobrevivido e sido salvos. Dois. Míseros. Minutos.
A cena é forte o bastante só com as imagens, mas é a música sinistra tocando ao fundo que faz nossas emoções darem pau. Para quem não lembra, a música se chama "The Host of Seraphim" do grupo australiano Dead Can Dance. Assistir a essa mesma cena no mudo não teria nem de longe o mesmo impacto.
E o que fez nossos corações doerem ainda mais foi ver a mulher do início do filme (Melissa McBride) sã e salva com seus filhos. O que nos faz perguntar: será que se David tivesse ido com ela quando ela implorou pela ajuda dele para procurar os filhos, será que Billy ainda estaria vivo?
Mas o que realmente faz o filme ficar em nossas cabeças, mesmo anos após sua estreia, é que ele força cada um a se perguntar, "o que eu teria feito?" Será que eu teria sido egoísta e me matado, conscientemente deixando outra pessoa para lidar com os monstros sozinha? Será que eu teria sido capaz de olhar nos olhos confusos e assustados do meu filho e puxar o gatilho, sabendo que ele seria feito em pedaços por tentáculos gigantes, comido por criaturas aladas, ou engolido por uma horda de aranhas se eu não acabasse com o sofrimento dele imediatamente?
E se eu poupasse todo mundo do horrível destino de esperar pela morte, o que eu faria com os meus últimos momentos na Terra, supostamente sendo a última pessoa viva? Será que eu abandonaria minha patética tentativa de abrigo para ir de frente com os monstros? Ou será que eu ficaria no carro, cercado das pessoas que eu acabei de matar, contando os minutos que eu teoricamente ainda teria de vida?
O mais surpreendente é que o controverso final do filme NÃO é igual ao do conto. O final escrito por King retratava o grupo dirigindo por um caminho que eles rezavam para que os tirasse da névoa. Enquanto mexia com o rádio do carro, David aparentemente ouvia uma palavra, o que indicava que havia outros sobreviventes, que havia esperança. A conclusão fica em aberto, mas é um jeito 1.000% mais positivo de se terminar a história, comparado com o final do diretor e roteirista Frank Darabont.
Muitos fãs do livro ficaram furiosos com a virada brusca da conclusão, mas o próprio King a adorou. De acordo com o Cinemablend, King declarou, "Frank escreveu um novo final, e eu amei. É o final mais chocante que eu já vi, e deveria haver uma lei condenando qualquer um que conte os últimos cinco minutos desse filme a ser pendurado pelo pescoço até a morte." Caraca, Stephen.
Com isso em mente, não é de se espantar que O Nevoeiro tenha sido um sucesso tão grande de bilheteria. Mas, enquanto celebramos o oitavo aniversário do filme, as questões morais que o filme ofereceu ao público são a razão verdadeira desse filme ter continuado conosco tantos anos depois. Os constantes "e se's" e "por que's" que nos divertiram e aterrorizaram foram como os tentáculos gigantenormes do monstro: se agarrando em nós e não largando por nada.
Fonte: MTV
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