Se você assistiu Steve Jobs, você já sabe que é uma cinebiografia divertida, bem-feita e com um bom ritmo retratando o homônimo chefão da Apple e aparente rei dos filhos da mãe. O roteiro de Aaron Sorkin é cheio das piadinhas, comentários e discussões elegantes e interessantes que se esperaria dele, enquanto que a direção de Danny Boyle dá um tom cinematográfico encantador ao que, basicamente, se resume a três cenas dos bastidores que repetem os mesmos conflitos de novo, de novo e de novo.
Mas é Michael Fassbender que realmente toma o controle de Steve Jobs e torna obrigatório assistir ao filme. Sua performance complexa, intimidadora e descompromissada é uma das melhores do ano, e as contribuições de Kate Winslet, Seth Rogen, Michael Stulhberg, Jeff Daniels e Katharine Waterson são tão espetaculares quanto.
Apesar de seus toques de gênio, Steve Jobs ainda tem suas falhas. Ele acaba ficando repetitivo e, por vezes, sentimental demais. E talvez pelo fato de que várias versões do roteiro de Aaron Sorkin quase chegaram às telonas, nós ficamos imaginando o que poderia ter sido. Aliás, aqui estão três mudanças para Steve Jobs que significam que quase tivemos um filme completamente diferente do que está atualmente nos cinemas do mundo todo.
David Fincher Estava a Uma Discussão Contratual de Dirigir Steve Jobs
Após trabalharem juntos em A Rede Social, não é de se espantar que Aaron Sorkin tentou recrutar David Fincher para dirigir Steve Jobs assim que ele terminou de adaptar o livro de Walter Isaacson sobre a lenda da Apple. Fincher também estava ansioso para por as mãos no roteiro de Sorkin. Infelizmente, uma disputa contratual fez o diretor se retirar da produção, mas a segunda escolha de Scott Rudin, Danny Boyle, na hora caiu de amores com o trabalho de Sorkin, e logo entrou para a equipe.
O que seria diferente se Fincher tivesse sido o diretor? Bom, para começar, a trilha sonora provavelmente teria brilhado com os esforços de Trent Reznor e Atticus Ross, e muito provavelmente não incluiria uma música da banda britânica The Libertines, a qual, apesar de ter gostado, eu achei que não estava no lugar certo.
Fora isso, podemos apenas especular. Será que David Fincher teria feito questão que as re-aparições constantes dos ex-aliados de Steve Jobs, que rapidamente viraram seus inimigos, não ficassem parecendo um capítulo de novela? Bom, o sensacional documentário sobre a produção de A Rede Social provou o quão meticuloso o diretor é em seus esforços de retirar do roteiro material que ele considera supérfluo. Talvez isso fizesse Steve Jobs ser um pouco menos apelativo.
Uma coisa é quase certa: David Fincher não teria feito o fechamento da história tão bombasticamente sentimental. Danny Boyle já revelou em suas conversas com Amy Raphael, transcritas em seu excelente livro Danny Boyle: Em Suas Próprias Palavras, que sente muito remorso por não ter terminado Sunshine: Alerta Solar com a música "Fix You" do Coldplay, porque ele teve medo que ficaria muito exagerado. Desde então, especialmente em Slumdog Millionaire e 127 Horas, Boyle tem usado bastante os finais grandiosos e emocionantes. Eles se encaixaram bem com ambos os filmes por gerarem uma catarse depois das montanhas-russas de emoção geradas pelas narrativas. Esse estilo não funcionou com Steve Jobs. Aliás, ficou parecendo forçado e exagerado. E foi algo que, para melhor ou pior, eu não imaginaria David Fincher fazendo.
Christian Bale, Não Michael Fassbender, Era a Primeira Opção para O Papel de Jobs
Quando Sorkin revelou que Christian Bale tinha sido escolhido para estrelar Steve Jobs, o roteirista insistiu que eles tinham contratado o melhor ator do mundo para o papel. Então, claro, quando Bale saiu do projeto junto com David Fincher, todos sempre saberiam que seu substituto seria a marca barbante do ator que fez Batman Begins. Por sorte, quem substituiu Bale foi ele próprio. Mas, depois de concordar em participar do filme pela segunda vez, ele desistiu de vez em novembro de 2014.
Como consequência da saída de Bale, ofereceram o papel a Michael Fassbender, e quem viu o filme vai concordar que existe algo de especial em sua performance como Jobs. Na verdade, ele é tão bom que imaginar outra pessoa no papel beira o impossível.
Mas a notícia de que Steve Jobs teve uma abertura mediana nas bilheterias vai gerar perguntas sobre se a presença de Christian Bale teria aumentado seu sucesso inicial. American Hustle, O Vencedor e O Grande Truque não foram blockbusters, mas tiveram retornos enormes, enquanto que, apesar de seu óbvio talento, Michael Fassbender ainda não conseguiu ser a estrela de um filme de baixo orçamento que acabe sendo um grande sucesso de bilheteria.
Mas isso não é importante de verdade, porque Fassbender está excelente como Steve Jobs, e isso é tudo que merece ser lembrado. Muito embora eu goste de imaginar que em algum universo paralelo por aí, Christian Bale também está sendo tão aplaudido quanto por sua versão de Jobs.
Sony Quase Foi Produtora, Seth Rogen Quase Não Entrou?
Será que a decisão de escalar Seth Rogen, de A Entrevista como Steve Wozniak foi a razão da Sony ter abandonado Steve Jobs? Muito provavelmente não, mas é uma historinha secundária interessante de como o filme eventualmente chegou aos cinemas.
Depois de comprar os direitos do livro de Walter Isaacson em outubro de 2011, contratar Aaron Sorkin para adaptá-lo, forçar David Fincher a confirmar e depois desistir da posição de diretor, e, então, finalmente conseguir recrutar Boyle, Fassbender e Rogen, a Sony acabou por abandonar o barco. Mas isso não teve a ver com Rogen. Na verdade, teve mais a ver com o fato da Sony querer reduzir custos depois de várias bilheterias ruins. Eles não achavam que Steve Jobs seria um sucesso, e julgando pelo seu retorno bruto atual, ele provavelmente não vai gerar muito lucro, então o estúdio acabou decidindo parar a produção.
Mas a Universal Pictures rapidamente assumiu o projeto, e deu a Boyle e seus asseclas $30 milhões de dólares para fazer a magia do roteiro de Sorkin acontecer. Mas será que esse valor foi o suficiente para fazer o filme? Bom, dependendo do quanto foi pago aos atores, pensar-se-ia que sim. Mas o crivo de comparação mais óbvio é A Rede Social, e já que ele custou $10 milhões a mais para ser feito e teve um elenco menor e menos renomado do que Steve Jobs, pode-se pensar que daria para ter um pouco mais de combustível para o je ne sais quoi do filme.
Mas isso é um julgamento meio duro demais. Com certeza houve marketing, curiosidade e atenção positiva sobre Steve Jobs o suficiente para muitos imaginarem que o filme seria um sucesso. Mas, infelizmente, no cinema dos dias de hoje, é impossível saber com precisão como e porque um filme tem sucesso ou não nas bilheterias.
O que sabemos com certeza é que Steve Jobs tem suas falhas, mas é uma cinebiografia não-convencional e divertida de que todos deveríamos desfrutar, sem deixar de, ao mesmo tempo, especular sobre o que poderia ter sido.
Fonte: CinemaBlend
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