quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Jogos São Como Casamentos: Dão Alegria, Dão Tristeza, E Perdem o Encanto Depois De Um Tempo - Quinta Jogando #35


Jogos são um meio de entretenimento único, quando comparados a filmes, livros e televisão. Para começar, eles precisam da interação do espectador, o que é mais que se pode dizer da maioria dos hobbies, mas eles costumam ser ocupações épicas que consomem várias horas.

Muito embora haja filmes que durem mais de três horas e séries de TV que possuam dezenas de temporadas ao longo das décadas, poucas experiências se comparam às centenas de horas que alguns dos nossos amados jogos nos fornecem. Mesmo os lançamentos anuais de jogos AAA prometem pelo menos 40 horas de história e side-quests.

Claro, apesar de suas extensas campanhas e infinidade de inimigos a matar e coisas a fazer, não são muitos de nós que chegam ao 100% nesses jogos. Isso é para os completistas e viciados em conquistas. Mas talvez não seja só porque os desenvolvedores tenham recheado os jogos para que eles ficassem mais longos, ou mesmo porque tenhamos déficit de atenção e mudar o foco para outra coisa seja inevitável. Talvez, simplesmente, muitos jogos sejam melhores em seus começos.

É provável que exista um pouco disso em qualquer produto de entretenimento. O jogo sempre vai ser mais empolgante de se jogar quando você não sabe nada de nada e tudo que você faz é algo novo. Ainda não dá para ver os fios e engrenagens por trás da máscara de interatividade e você ainda não sabe que suas escolhas não importam tanto quanto o jogo te faz acreditar.

Se o jogo é multiplayer, dá para relaxar logo depois que você começa a jogar. MOBAs e outros jogos que requerem reflexos muito rápidos e muito conhecimento sobre o jogo são ótimos nas primeiras partidas, mas podem rapidamente perder o charme quando se começa a perceber que, a menos que você aprenda a dar last hits e fazer os cálculos rápidos para decidir se o bônus de ataque ou o de defesa é o mais indicado para contra-atacar os equipamentos do oponente, você não vai mais ter tanta chance de vencer.

Fora isso, você tende a não ser capaz de jogar com a classe ou o personagem que você gosta mais, pois outra pessoa já pode tê-lo escolhido ou então essa escolha não faz sentido na composição do seu time. Quando você está começando, isso não tem importância.

Entretanto, eu não acho que tudo seja culpa do nosso fugaz interesse. Às vezes, o início de muitos jogos é de fato a parte mais divertida, devido ao fato da parte principal do jogo ser muito dependente dos clichês tradicionais daquele gênero.

Bioshock Infinite, por exemplo. Eu o joguei do começo ao fim logo depois do lançamento, e me diverti muito, só não tanto quanto eu esperava. Depois de 13 horas admirando a paisagem e o combate contra uma quantidade aparentemente infinita de guardas humanos e robóticos em Columbia, a experiência se desvaneceu em algo esquecível, mesmo que ainda empolgante.

Mas com certeza eu me lembro das primeiras duas horas. Aquela época maravilhosa em que eu pude explorar a cidade o quanto eu quis, me maravilhando com sua beleza e magnificência sem sentir que eu precisava esvaziar cada cofre, gaveta e lata de lixo atrás de munição e dinheiro. Uma época em que eu não tinha que ter o dedo do gatilho coçando nem me preocupar com ter que refazer uma sequência inteira.


Columbia parecia um mundo vibrante e fascinante. Eu queria jogar um jogo em que eu fizesse parte daquilo, não ter que atirar nas pessoas e vê-las fugindo de mim. Eu queria interagir com as pessoas e descobrir um mistério, ou ser um personagem secundário ao combate. Não um monstro armado até os dentes se arrastando de uma missão para outra sem parar para pensar nas consequências dos meus múltiplos assassinatos.

O sentimento foi parecido quando eu estava jogando Alien: Isolation. Eu acho o jogo fantástico, e ele me proporcionou algumas das experiências de jogo mais tensas e memoráveis que eu tive na vida, mas eu fico sempre com vontade de jogar um jogo baseado, de novo, naquelas primeiras duas horas. Aquela parte em que você está aprendendo sobre a estação, interagindo com as pessoas e se escondendo dos andróides. Durante esse período, eu fui capaz de explorar e admirar a estação, a complexidade do design e todo aquele futuro pseudo-anos 80.

Algumas horas mais tarde, cada corredor era um inimigo, cada cantinho escuro era algo a se temer e cada barulho de passo me fazia sair correndo na direção de um armário, por onde eu ficaria pelos próximos minutos.

É tenso, envolvente, imersivo e uma representação fiel do mundo criado pelo primeiro Alien, ao invés de suas sequências, que foram mais voltadas para a ação. Mas, assim como com Infinite, a minha maior diversão era simplesmente explorar o mundo à minha volta e aprender como ele funcionava.


Apesar da diferença no gameplay não ter sido tão gritante quanto em Infinite, Isolation tinha aquela mesma sensação de que havia outro jogo por baixo de todo o medo e a tensão. O começo parecia um jogo completamente diferente, e eu provavelmente vou voltar para lá em algum momento e explorar um pouco mais, com mais calma dessa vez, já que eu sei que o Alien ainda não vai aparecer e me grudar na parede. Pelo menos pelos próximos minutos.

Eu quero ver mais jogos que não dependem de combate ou do medo da morte para prosseguirem. Eu quero jogar mais jogos onde a exploração seja empolgante e o mundo pareça vivo, sem ter que explodir alguém só porque ele tem uma arma que eu preciso. Às vezes, o foco do jogo não precisa ser a vida e a morte.

Mas, com toda a certeza, eu não sou o único que acha isso. Vocês também se pegam gostando mais do início de um jogo do que do fim dele? Vocês acham que o problema é a nossa atenção que é curta demais, ou realmente existem grandes jogos esperando para serem feitos com mecânicas que não priorizem o combate?

Fonte: MegaGames
Imagens: MegaGames, The Bioshock Wiki, Bit-Tech

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